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Foto: Joaquina Ramalho/ZN-SP, 08/12/2009 às 10h - Com muita água, o que você não vê: buracos, lixo e cidadania

Foto: Joaquina Ramalho/ZN-SP, 08/12/2009 às 10h - Com muita água, o que você não vê: buracos, lixo e cidadania

Na hora de praguejar São Pedro e os políticos, pensemos no que já fizemos para não sermos uma ameaça a mais em alagamentos

São Paulo foi mais uma vez penalizada pelas chuvas – e pelas autoridades? – na última terça-feira, além das famílias que pagaram o preço da natureza com mortes. Mais do que a cobrança ao poder público por providências, é hora do cidadão cobrar a si próprio por atitudes mais sensatas. No trânsito, e fora dele.
Se equilibrar em relevos mais altos, disputar uma ponta na calçada para não cair na lagoa que virou a rua e largar o carro numa cena a la “Um dia de fúria”, mas sem sol, é algo que poderia ser evitado em locais que não necessariamente foram vítimas da engenharia “do mau”.
Na véspera da enxurrada que deixou as marginais sob água, a manhã da metrópole já era cinzenta, com uma garoa incessante. Trafegando pelas ruas de bairros e, sobretudo das imediações do Centro, podia-se ver uma companhia comum de motoristas e transeuntes: o lixo. Muuuuito lixo. Nos becos, esquinas, calçadas. Eles ainda podiam ser vistos, a chuva ainda não havia levado, ou mesmo encoberto. O excesso de lixo nas ruas, sem destino certo, pode não ter sido a causa do estrago pelo qual São Paulo passou, mas certamente contribui para o entupimento de muitos bueiros que conteriam ou minimizariam a enxurrada – se estivessem livres.
Água demais, lixo demais e veículos demais são algumas consequências do fator “gente demais”. E preparação? De menos.
Cobrar autoridades pelo que já deveriam ter feito há décadas não deixa de ser legítimo e necessário, mas é chover no molhado. Tudo o que São Paulo tem demais (seja bom ou ruim) é fruto do pouco que cada um dos milhões de moradores, pseudo-moradores ou visitantes fazem. A Administração tem a sua parte (cumprida ou não). Mas e a nossa?

Pé de pato pra quem tem
O show de horrores no trânsito, no seco ou molhado, virou “coisa normal”, mas não deveria. Alagamento “era coisa normal” em SP, até chegar a uma nova situação, sem precedentes. É “normal” ver nos sites ou na TV carros capotados, motos estraçalhadas, tanto quanto corpos? Não quando é alguém próximo a nós, certo? As coisas precisam ficar cada vez piores para nos lembrar de que NÃO são normais. Mas…
…Ainda assim há quem abuse da velocidade em dia de chuva, mesmo que não torrencial; há pedestre que atravessa as ruas correndo quando os veículos, principalmente motos, ficam terrivelmente mais incontroláveis em situações de comando brusco no seco, que dirá no piso molhado; há quem confie cegamente na reação, mesmo quando esta é tardia, ou insuficiente para evitar sustos, ou mesmo fatalidades.
Muitos andam “munidos” de galocha, mas já que carregar pés de pato foge do nosso costume, parar e esperar sempre vale mais. Vale mais ficar três, seis horas esperando a poeira, ops, a água baixar, do que não mais voltar pra casa ou para a família. Vale mais manter a cautela ainda no dia seguinte às chuvas porque, mesmo que o nível da água abaixe, vão “nascer” dezenas de buracos e remendos até então desconhecidos no mesmíssimo caminho de todo santo dia. Vale mais se espremer no metrô e levar as mesmas cansativas horas – ou até menos – para chegar no destino, do que sair com um veículo que não esteja 100%, ainda mais depois de passar por provas do tipo.

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O pouco vale muito
Conduta utópica? Pode até ser. Mas enxurradas, que causam deslizamentos e desabamentos que deixam pessoas como nós sem moradia e perdendo entes queridos já é um preço alto demais. Não precisa ser encarecido por mais imprudência nessa hora.
A sua defesa pessoal de fatalidades, das mais adversas, está nas coisas mais simples do mundo como descartar lixo no local correto ou atravessar a rua – motorizado ou não – apenas quando chegar a vez. O Estado, as bombas de Traição – traíras? – ou São Pedro, invariavelmente, não têm nada a ver com nossas atitudes na rua. (In)felizmente.