Desde o início ficou claro que a BMW G 310 R teria o objetivo de ampliar e rejuvenescer a base de clientes da marca. A estratégia era clara, já que com sucessivos recordes de vendas da marca no mundo, estava cada vez mais difícil crescer apenas com motos premium – acima de 500 cc – e era necessário abrir espaço em segmentos inferiores do crescente mercado mundial de motos.
Foi então que no Salão Duas Rodas de 2015 – isso mesmo, aqui no Brasil – a BMW Motorrad apresentou mundialmente o primeiro conceito da moto, dando inclusive uma indicação para quais mercados essa moto “pequena” seria destinada. Este discurso foi mantido e enfatizado a cada nova ação da empresa para introduzir a BMW G 310 R no mercado, o que aconteceu definitivamente poucos meses depois, em novembro de 2015 lá na Índia, onde a moto é produzida.
Aqui no Brasil a moto chegou apenas em agosto de 2017 porque antes a BMW precisava inaugurar sua própria unidade montadora em Manaus (AM), o que aconteceu em outubro de 2016 com a montagem da F 700 GS. Até então as motos da marca eram montadas na fábrica da Dafra, mas a chegada da “pequena” G 310 R exigia mais espaço e melhor controle, além de maior quantidade de componentes nacionais e de processos feitos por aqui em função do volume maior de produção do modelo.
Apesar dos executivos da BMW à época do lançamento não terem feito qualquer previsão de vendas da nova moto pequena, conversas informais com pessoas ligadas diretamente com a fábrica indicavam que nessa classe de motos um volume mínimo de 100 unidades por mês seria razoável. Mas o mercado não respondeu assim e o volume de vendas ficou aquém do desejado, ao menos nestes primeiros 12 meses de vendas do modelo. De agosto 2017 até agora (maio de 2018) foram vendidas 682 unidades da BMW G 310 R, uma média mensal de 68 motos, segundo dados de emplacamento divulgados pela Fenabrave.
Com a realização desta avaliação mais completa, consideramos que a BMW G 310 R é incompreendida, já que pudemos comprovar pelo desempenho da moto que ela realmente concorre na faixa superior porque entrega muito mais que suas supostas concorrentes de 250 cc – Yamaha Fazer 250 e Honda CB Twister 250. No entanto, ela não supera as motos do degrau superior, KTM 390 Duke, Yamaha MT03 e Kawasaki Z300. Portanto, esse posicionamento intermediário deveria implicar num preço intermediário também, o que poderia estimular mais vendas. Mas não é o que acontece. Veja a tabela:
Modelo |
Motor |
Potência |
Capacidade cúbica |
Preço praticado (FIPE) |
BMW G 310 R | Um cilindro | 34 cv | 313 cc | R$ 22.150 |
Kawasaki Z300 | Dois cilindros | 39 cv | 296 cc | R$ 20.591 |
KTM 390 Duke | Um cilindro | 44 cv | 375 cc | R$ 22.790 |
Yamaha MT03 | Dois cilindros | 42 cv | 320 cc | R$ 21.691 |
G 310 R surpreende
Desenvolvida na Alemanha, fabricada na Índia e montada no Brasil, a BMW G 310 R, além do desempenho melhor, oferece também o padrão da marca quanto a requinte, sofisticação e tecnologia. Bons exemplos disso são o painel em cristal líquido com computador de bordo, a suspensão dianteira invertida, a balança traseira em alumínio e os freios ByBre, marca mais popular da Brembo. Percebe-se na moto grande cuidado na qualidade das peças e na montagem. E essas características se estendem ao desempenho.
Suas dimensões compactas permitem à BMW G 310 R oferecer grande agilidade para condução em baixas velocidades, não exigindo muita aceleração para empurrar a moto em qualquer marcha. O destaque fica para as retomadas de velocidade, que acontecem sem sustos, mesmo quando se espera que o motor vá exigir redução de marcha. Na verdade a impressão que se tem ao andar com ela é que trata-se de uma moto com motor maior pela força do motor e rapidez com que ele responde ao comando do acelerador. A moto permite manter em estrada a velocidade constante de 120 km/h (GPS) sem esforço, o que indica velocidade final bem superior a isso. A fábrica informa como velocidade final real de 143 km/h.
Rodamos com a BMW G 310 R um total de 1.055 km em todos os tipos de ambientes aos quais ela está destinada no uso normal: cidade, estradas simples, grandes rodovias, trânsito urbano travado, chuva, durante o dia e à noite. E em todas as condições, a moto mostrou desempenho equilibrado e muito economia. A média geral de consumo ficou em 26,8 km/litro – rodamos 1.055 km com 39,4 litros de gasolina comum, uma boa marca para a categoria, sobretudo se levarmos em consideração que rodamos 70% em estradas e rodovias, onde a velocidade esteve sempre entre 100 km/h e 120 km/h. Um tanque maior seria bem vindo para períodos maiores sem visitas ao posto de abastecimento, mas o atual de 11 litros de capacidade permite autonomia segura de 250 km.
O motor da G 310 R é um monocilíndrico de 313 cc, arrefecido a líquido, com comando duplo de válvulas, injeção eletrônica de combustível e que gera 34 cv de potência a 9.200 rpm e torque máximo de 2,9 kgf.m a 7.500 rpm. O cilindro invertido e inclinado para trás, com a saída do escapamento atrás e a admissão na frente, dá à moto entre outras vantagens, menos peso (158,5 kg) pelo tubo de escapamento bem menor, melhor admissão de ar para a câmara de combustão e mais equilíbrio dinâmico da moto, já que esta posição transfere para trás e para baixo o centro de gravidade da moto.
Essas características da moto e o seu bom desempenho no teste comprovam que a combinação de potência e torque está muito bem resolvida, com adequada distribuição da força sempre disponível já a partir das baixas rotações. Apesar do motor de um cilindro, o funcionamento é suave e quase não se percebe vibração nem nas pedaleiras nem no guidão, que está montado sobre coxins de borracha. Suas medidas compactas explicam o irrepreensível comportamento da moto em qualquer situação, seja para desviar de um obstáculo em velocidade mais alta, ou para manobrar em pequenos espaços no meio do trânsito.
Para uma naked, a G 310 R está mais urbana do que esportiva, oferecendo razoável nível de conforto e com o triângulo assento, pedaleiras e guidão bem ajustado e que permite uma boa posição de pilotagem para a maioria dos pilotos, inclusive os de maior estatura, o que permite condução por períodos mais longos com total controle e segurança. Colaboram muito para isso também o conjunto de suspensões, com um amortecedor na traseira que possui ajuste na pré-carga da mola e garfo invertido na dianteira, que tem comportamento irrepreensível em todas as condições a que foi submetido.
É inegável que a nova moto da BMW tem um desenho bonito e moderno e que traz detalhes que chamam muito a atenção. Os tubos dourados da suspensão dianteira, por exemplo, dão um charme todo especial para a frente da moto e lhe dão um caráter esportivo. O chassi tubular treliçado está aparente e o motor pendurado nele faz parte da estrutura. Há ainda um sub-chassi que sustenta a traseira da moto e uma peça única em alumínio que cobre o vértice na base do chassi e traz o suporte da pedaleira do garupa. Destoa do conjunto o enorme escapamento com o protetor em alumínio polido.
Destaca-se o painel de instrumentos digital com uma única peça que traz um grande display de LCD (cristal líquido) que mostra velocidade, conta-giros (em barras), indicador de marcha engatada, nível do combustível no tanque, hodômetro total e parcial (trip 1), relógio, além do computador de bordo que informa consumo instantâneo e consumo médio. Um dos grandes esforços da BMW Motorrad é mostrar ao consumidor que se o valor da aquisição é um pouco maior porque a moto oferece mais, o custo de manutenção da moto é compatível e até mais competitivo que suas concorrentes da mesma categoria.
A empresa informa para a G 310 R que a tabela de manutenção tem intervalos maiores entre as revisões e os custos de manutenção são similares aos que outras marcas que atuam no mesmo segmento oferecem. Verificamos de forma direta na concessionária o preço das revisões e constatamos que as primeiras 5 manutenções obrigatórias (até os 40 mil km) o valor gasto será de R$4.325,00. Claro, aí não está o custo das eventuais peças de desgaste que precisarão ser trocadas, um custo razoável para categoria.
A julgar pela qualidade da moto, imagem da marca e desempenho oferecido pela nova moto da da BMW, fica claro que para cativar um novo cliente é imprescindível fazer um bom test-drive porque, como já enfatizamos, a moto está bem acima das concorrentes do degrau inferior – Yamaha Fazer 250 e Honda CB 250 Twister – mas não supera o desempenho das concorrentes diretas do mesmo nível – KTM Duke 390, Kawasaki Z300 e Yamaha MT-03. No entanto, ela tem muitas virtudes para cativar motociclistas querem um moto para todo dia, urbana e que encara com tranquilidade e economia passeios mais longos.
Ficha Técnica BMW G 310 R |
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Motor | Um cilindro, 4 tempos, arrefecido a líquido, 4 válvulas, DOHC |
Capacidade cúbica | 313 cc |
Diâmetro X Curso | 80mm x 62,1mm |
Taxa de compressão | 10,9:1 |
Sistema de partida | Elétrica |
Bateria | 12V – 8 Ah |
Sistema de Ignição | Eletrônica |
Tipo de combustível | Gasolina |
Capacidade do tanque de combustível | 11 litros |
Alimentação | Injeção Eletrônica |
Torque máximo | 2,9 kgf.m a 7500 rpm |
Potência máxima | 34 cv a 9500 rpm |
Transmissão | 6 velocidades |
Embreagem | Multidisco em banho de óleo |
Transmissão final | Corrente – pinhão 16 / coroa 40 |
Tipo de chassi | Estrutura tubular de aço com sub-chassi parafusado |
Pneu dianteiro | 110/70 R17 ZR tubeless |
Pneu traseiro | 160/60 R17 ZR tubeless |
Freio dianteiro | Disco simples de 300 mm com ABS |
Freio traseiro | Disco simples de 240 mm com ABS |
Comprimento | 2.005 mm |
Altura | 1.080 mm |
Altura do assento | 785 mm |
Trail | 102 mm |
Ângulo de esterço | 64,9 graus |
Peso em ordem de marcha | 158 kg |
Distância entre eixos | 1.374 mm |
Suspensão dianteira | Garfo telescópico invertido, tubos de 41 mm de diâmetro, 140 mm de curso |
Suspensão traseira | Balança de alumínio, amortecedor c/ regulagem na pré-carga da mola, 131 mm de curso |
Consumo médio (teste Motonline) | 26,8 km / litro |
Capacidade máxima de carga | 186 kg |
Preço Praticado | R$22.150,00 |