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Foto: Isso ‚ feio!

Foto: Isso ‚ feio!

Campanha “Cidade Limpa” de SÆo Paulo quer reduzir a polui‡Æo visual, antes de reduzir a polui‡Æo social. Quando nasci na Beneficˆncia Portuguesa, no cora‡Æo de SÆo Paulo, a cidade j  estava em estado de degrada‡Æo. Mesmo assim lembro de belos e buc¢licos passeios de bonde na Avenida Ibirapuera, lembro de ir na Galeria Prestes Maia assistir teatro de marionetes, ou cortar o cabelo ao lado na galeria, em uma loja chamada Eduardinho, que tamb‚m vendia sapatos.

Em 47 anos essa cidade s¢ piorou. E a culpa nÆo foi da m¡dia externa, mas da pol¡tica interna.

Dentre todas as iniciativas da Prefeitura de SÆo Paulo na gestÆo Serra-Kassab, a medida mais cretina, sem qualquer sombra de d£vida, ‚ essa tremenda falta de assunto chamada “Cidade Limpa”. A terceira maior cidade do continente americano, uma das 5 maiores cidades do mundo ‚ feia!  horrorosa! Mas nÆo por culpa das campanhas publicit rias em outdoors e sim pela desigualdade social que est  em cada cent¡metro quadrado de parede, muro, cal‡ada, avenida, poste, ponte, viaduto, edif¡cio etc. SÆo Paulo ‚ SOCIALMENTE feia e, a exemplo das faxineiras que nÆo querem buscar o aspirador de p¢, os outdoors funcionam muitas vezes como o tapete colorido para esconder essa fei£ra.

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Foto: Isso ‚ bonito?

Foto: Isso ‚ bonito?

A justificativa dos gˆnios que trabalham na prefeitura ‚ que “est  havendo um abuso de faixas e publicidade externa”. Ou seja, depois da pandemia de gerundismo que assola a l¡ngua brasileira – especialmente o dialeto paulistano – sou obrigado a conviver com a epidemia de cegueira (ou visÆo) seletiva. Onde a Secretaria do Verde e Meio Ambiente de SÆo Paulo vˆ excesso de faixas eu vejo excesso de mis‚ria. A dupla de prefeitos vˆ exagero nas placas e eu vejo um emaranhado de postes, fios el‚tricos, pontes e viadutos de um mau gosto arquitet“nico s¢ compar vel …s ruas de Bangladesh. O secret rio de Obras vˆ a degrada‡Æo arquitet“nica onde eu vejo a degrada‡Æo humana na forma de crian‡as malabaristas equilibrando bolinhas em cada esquina dessa cidade, como se equilibrassem a pr¢pria existˆncia.

Mais uma vez SÆo Paulo se junta … Lisarb, o pa¡s fict¡cio mais real do mundo, na gestÆo da administra‡Æo p£blica. J  que nÆo ‚ poss¡vel controlar, fiscalizar, manter um padrÆo, ‚ mais f cil (teoria facista) proibir! E ainda aplicando pesadas multas para aumentar o caixa e dar continuidade …s obras que arreganham essa cidade como feridas purulentas a cada quil“metro quadrado. A avenida vereador JoÆo de Lucca, pr¢xima da minha casa, ficou 12 anos. Repito: DOZE ANOS em obras! E ainda nÆo terminaram. H  12 anos eu passo por tapumes, tratores, caminhäes e convivo com desvios sem qualquer no‡Æo por causa de UMA obra! Isso nÆo ‚ feio. Na visÆo dos quatro olhos da dupla Serra-Kassab isso ‚ belo.

Eu nÆo tenho a menor d£vida que a administra‡Æo de SÆo Paulo h  v rias d‚cadas entrou numa fren‚tica busca por arrecada‡Æo. A hist¢ria mostra que SÆo Paulo perdeu muitas ind£strias para as cidades vizinhas e esse ˆxodo se deu pela fome insaci vel de impostos. Espertas, cidades do interior acenaram com isen‡Æo fiscal quase vital¡cia e os industriais, cansados de carregar um munic¡pio como s¢cio, se mandaram justificadamente. O resultado ‚ que SÆo Paulo virou uma cidade de prestadores de servi‡o. Que pagam um imposto baixo, em compara‡Æo com a ind£stria, sem falar na gigantesca popula‡Æo de trabalhadores informais que ignoram qualquer imposto.

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A forma de recuperar esse dinheiro perdido ‚ criar multas. Na minha neurose conspirat¢ria, imagino que nos poräes da prefeitura habitam profissionais que passam o dia pensando em novas formas de aplicar multas. Sim, porque nÆo passa pela cabe‡a de nenhum prefeito que reduzir a carga tribut ria poderia aumentar a arrecada‡Æo. Isso est  fora de questÆo. Na capital o ISS ‚ de 5%, enquanto na vizinha Barueri, ‚ de 1% e em Po , de 0,5%. Cientes disso, muitos profissionais aut“nomos transferiram seus domic¡lios para as cidades vizinhas. Mas o prefeito nÆo reduziu o ISS, sabe o que ele fez? Criou uma forma de o ISS ser pago pela empresa contratante do servi‡o. Quem tem escrit¢rio em Barueri, mas presta servi‡o em SP, dever  pagar o ISS da capital. NÆo questiono a justi‡a da medida, mas ningu‚m pensou em reduzir a al¡quota de ISS para trazer esses profissionais de volta?

O IPVA de SP ‚ o maior do Brasil. Alguns motoristas foram licenciar seus carros em Curitiba (PR) para fugir dessa carga. Mas a prefeitura j  avisou que vai fiscalizar quem usa domic¡lio virtual e multar, claro! Por‚m, nÆo se questionou a redu‡Æo desse imposto.

Falando em IPVA, sabe o que ‚ feio em SP? Feio ‚ ter de colocar minha vida nas mÆos de motoristas que dirigem carros caindo aos peda‡os, sem freio, poluentes, inseguros e, ironia maior, isentos de IPVA por terem ais de 20 anos! Feio ‚ saber que NENHUM prefeito quer tomar medidas anti populares para melhorar a cidade. Como disse um leitor, quem usa carro velho ‚ quem nÆo pode pagar por um novo. Desculpe, mas isso ‚ populismo. NÆo quero que minhas filhas sejam atropeladas por uma Bras¡lia 1983 sem freios s¢ porque o motorista ‚ duro!

A exemplo do governo petista do Lula, que nÆo quer tomar medidas anti populares para reduzir o d‚fict da Previdˆncia Social, meus prefeitos nÆo querem tirar os ve¡culos velhos de circula‡Æo porque resultaria em antipatia com a popula‡Æo pobre. Qual a sa¡da? Buscar dinheiro dos publicit rios, categoria reconhecidamente de pessoas classe m‚dia-alta.

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Meu amigo Ca¡to Alcƒntara Machado teve o maior problema para divulgar seu Motoboy Festival. Qual m¡dia atinge o motoboy? Ele nÆo pode ouvir r dio no capacete (‚ proibido); nÆo assiste TV, nÆo lˆ jornais nem revistas. Fica na rua 16 horas por dia! A forma de “falar” com motoboys ‚ por meio de faixas. As mesmas faixas que o CET usava para “falar” com os motoristas. NÆo h  como deixar um viaduto de SP mais feio. NÆo h  beleza nas marginais, nem se plantarem sequ¢ias canadenses. Mesmo assim nÆo ‚ mais permitido usar faixas. Falar com o motoboy se tornou o maior desafio do evento.

Mais ir“nico ainda ‚ descobrir que ao retirarem alguns cartazes da cidade, o que se descortinou por tr s deles foram favelas, terrenos abandonados cobertos de entulhos, lixo e mais lixo. Os gˆnios da Prefeitura fizeram uma simula‡Æo no computador para mostrar a cidade sem cartazes. Mas escolheram regiäes com fundo neutro. Esqueceram das favelas!

O que chamam de polui‡Æo visual ‚ a “cara” da cidade. Ao retirar os cartazes de SP a cidade ficou sem personalidade. SÆo Paulo precisa de outdoors da Forum, back-lights da Volkswagen, luminosos da Philips, n‚on da Sony piscando, luz, muita luz e cores.

J  que a ineficiˆncia p£blica nÆo conseguiu controlar os abusos, vamos “limpar” a cidade da publicidade e exibir SÆo Paulo como ela ‚: feia por natureza!