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Foto: Polui‡Æo ‚ problema dos outros

Foto: Polui‡Æo ‚ problema dos outros

NÆo d  mais para gastar tempo, dinheiro e c‚rebro em campanhas de trƒnsito em uma sociedade composta de pessoas sem educa‡Æo social. Nesta segunda-feira encerra-se a Semana de Preven‡Æo de Acidentes de Trƒnsito em v rias cidades do Brasil. Todos os anos as concession rias de rodovias, a Pol¡cia Rodovi ria e o Minist‚rio dos Transportes se empenham em reduzir os acidentes. Mesmo assim ‚ vis¡vel que os acidentes envolvendo motos s¢ aumentam e ningu‚m consegue explicar os verdadeiros motivos. Pois bem, aqui vai mais uma explica‡Æo: estÆo investindo no alvo errado!

Vou deixar um pouco de lado a questÆo do trƒnsito em si e abrir uma nova luz sobre esse assunto para discutir um pouco sobre a educa‡Æo. NÆo a educa‡Æo formal, aquela que se aprende na escola, mas a educa‡Æo SOCIAL aquela que se aprende na vida. A cada d‚cada eu percebo estupefato que o n¡vel da educa‡Æo social est  caindo em uma progressÆo preocupante. Parece que as pessoas que vivem em grandes cidades estÆo cada vez mais fechadas em si, beirando uma epidemia generalizada de sociopatas.

O trƒnsito nada mais ‚ do que a convivˆncia em uma “sociedade motorizada” e as leis de trƒnsito existem para que a vida nesse sociedade seja organizada e cada um saiba ocupar seu espa‡o dentro dessa comunidade.  uma afirma‡Æo tÆo ¢bvia que at‚ parece infantil, mas de tÆo evidente parece obnublada perante as chamadas autoridades, porque continuo recebendo sistem tica e periodicamente material com as mais diferentes campanhas de trƒnsito direcionadas aos motoristas e motociclistas. P ra tudo! Est  tudo errado! Quando o indiv¡duo atinge a idade de tirar habilita‡Æo j  est  irremediavelmente mal formado para viver em sociedade.

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Foto: Sem foros no lugar da educa‡Æo

Foto: Sem foros no lugar da educa‡Æo

Da mesma forma que surgem novos conceitos para definir novos fen“menos posso afirmar sem medo de cometer uma gafe cient¡fica que estamos vivendo uma imensa crise de analfabetismo social. Motoristas e motociclistas se envolvem em acidentes nÆo por falta de habilidade como as autoridades querem nos empurrar goela abaixo, mas morrem e matam por absoluta incapacidade de respeitar as mais elementares normas de conv¡vio social.

A falta de educa‡Æo est  nas mais simples atitudes. O motorista/motociclista que roda com um ve¡culo mal conservado (a t¡tulo da argumenta‡Æo furada de falta de grana pra mantˆ-lo) soltando fuma‡a e atrapalhando os outros ve¡culos est  deixando claro que est  pouco se lixando para o resto da humanidade. O mais importante naquele momento ‚ resolver o problema individual. O mesmo vale para motoristas de frotas que param em fila dupla para descarregar refrigerante. Para eles o mais importante na vida ‚ resolver seus pr¢prios problemas. Os outros? Ora, os outros sÆo problemas deles.

Cada um quer resolver o SEU problema independentemente dos problemas que possam causar aos outros. Qual outra defini‡Æo para esse tipo de comportamento que nÆo seja o de sociopata? O doente social nÆo quer saber o que pensam dele. Ao contr rio, ele espera que a sociedade nÆo o atrapalhe. Neste contexto, as leis de trƒnsito soam como um castigo, algo que vem s¢ para atrapalhar a vida.

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 para esse tipo de p£blico que as campanhas devem ser direcionadas, mas o que vejo h  d‚cadas sÆo campanhas muito bem feitas, direcionadas a um p£blico equilibrado como se o Brasil fosse habitado por suecos ou noruegueses.

O uso indiscriminado de sem foros ‚ a reden‡Æo diante da falta de educa‡Æo. Na cidade de SÆo Paulo, em um percurso de pouco mais de 8 km eu contei 36 sem foros! Isso mesmo: uma m‚dia de 4,5 sem foros por km. Se um paulistano perder uma m‚dia de 30 segundos por sem foro, perde-se uma m‚dia de 18 minutos parado. Com isso a velocidade m‚dia de um ve¡culo motorizado nesse percurso raramente passa de 20 km/h em qualquer hor rio que seja.

O sem foro representa o fracasso da educa‡Æo social.  preciso OBRIGAR uma pessoa a parar porque de outra forma haveria um caos a cada cruzamento porque ‚ imposs¡vel ao cidadÆo sociopata perceber que chegou a vez do outro atravessar a rua! O sem foro significa que fracassaram os outros sinais como a simples e ignorada placa de PARE. Essa ‚ a placa mais desprezada de todas! A palavra PARE significa IMOBILIZE-SE. Mas aos analfabetos sociais ela significa “continue na mesma balada”. Idem aos sinais mais simples como o de contra-mÆo, proibido retorno etc. Tenho a clara impressÆo que as placas nÆo sÆo interpretadas da mesma forma por todos os cidadÆos, sobretudo aos sociopatas.

Consertar o analfabetismo social custa caro e nÆo se faz como assistencialismo. Tratar a sociopatia coletiva exige investimento na estrutura, na raiz da doen‡a. Perdi as esperan‡as nas campanhas, palestras e essas a‡äes para discutir a “questÆo do trƒnsito”. O indiv¡duo precisa aprender a CRESCER em sociedade. E o £nico lugar que conhe‡o onde se ensinam os neo-cidadÆos chama-se escola. A mat‚ria “viver em trƒnsito” deveria constar desde a mais tenra infƒncia. O cidadÆozinho brasileiro precisa aprender desde cedo que a vida em comunidade significa ocupar seu espa‡o e dar espa‡o aos demais. Significa respeitar e ser respeitado. Mas nÆo adianta fazer isso na escola su¡‡o-brasileira ‚ uma mat‚ria que deveria constar do conte£do program tico das escolas p£blicas tamb‚m!

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O que leva um indiv¡duo a atravessar uma estrada por baixo da passarela de pedestres? Que se passa na cabe‡a de algu‚m que deliberadamente entra na contra-mÆo ou atravessa um farol vermelho? Qual o senso de coletividade de um motorista que estaciona o caminhÆo em fila dupla para descarregar caixas de cerveja? E que tipo de instru‡Æo essa empresa que o contratou passou aos seus motoristas?

Algumas concession rias de rodovias querem impedir as motos abaixo de 250cc de circularem nas estradas. Eu j  lutei contra essa medida por achar abusiva e inconstitucional. At‚ que no feriado de 7 de setembro fui com minha moto para o litoral paulista. Vi nada menos do que seis acidentes envolvendo motociclistas. Todos com motos abaixo de 250cc e provocados pelo excesso de velocidade do motociclista no corredor. Todos com ferimentos no motociclista e acompanhante. Como nÆo dar razÆo a uma medida aparentemente abusiva se a amostragem que temos conspira contra os motociclistas?  imposs¡vel encontrar algum argumento minimamente sensato diante de bra‡os e pernas quebrados.

Durante a viagem vi cenas de terror expl¡cito com motociclistas que, … falta de uma classifica‡Æo mais cient¡fica, s¢ posso considerar como analfabetos sociais. Seria injusto cham -los de irrespons veis, porque eles desconhecem o que seja responsabilidade.  como punir uma crian‡a de 7 anos por nÆo saber a tabela peri¢dica de qu¡mica! Um analfabeto social nÆo age de forma respons vel porque o conceito de responsabilidade nunca lhe foi ensinado! Ele nÆo sabe o que isso significa.  como algu‚m me mostrar uma partitura: sei que ‚ relativa … m£sica, mas nem fa‡o id‚ia do que esteja escrito naquelas linhas.

Enquanto o trƒnsito for tratado com o rigor t‚cnico, sem abrir a discussÆo no campo social, continuaremos a conviver com doentes sociais. E, a exemplo de outras doen‡as, quando nÆo tratada a tendˆncia ‚ o paciente evoluir para a morte!