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O dólar está barato, um convite para viajar para o exterior, especialmente para os EUA. Em março deste ano eu estive com a esposa em Daytona para o Bike Week e foi uma experiência muito interessante, que recomendo a todos que estejam planejando ir a algum evento desse tipo no exterior. Selecionei algumas dicas que podem ser úteis para aproveitar o melhor a viagem, já que naquela região há muito o que ver além do Bike Week.

A baixa temporada de turismo começa no dia 1 de março, com passagens aéreas a preços mais baixos e hotéis mais baratos. Este ano o Bike Week de Daytona começou no dia 2 de março, uma sexta feira, e foi até dia 11 de março, um domingo. Como é comum nesses eventos, o último já não há nada pra ver, a despedida é mesmo na noite de sábado, o domingo é o dia da volta com todos os caminhões partindo logo pela manhã. Eu saí do Brasil no dia primeiro mesmo, chegando a Miami no dia 2 pela manhã, mas ao invés de ir direto pra Daytona decidi quebrar a viagem em algumas etapas, algumas eu não cheguei a concluir e outras não foram boas escolhas.

Fiquei em Miami nos primeiros dias para fazer compras e encontrar um amigo (Kurt, falaremos mais dele adiante), e se por um lado foi um imenso prazer encontrá-lo, Miami não foi um bom local para ficar. Os hotéis, por causa do inverno no norte dos EUA, estavam todos muito caros, locais onde eu pagava 90 dólares em outras épocas do ano estavam nesse período com diárias superiores a 200 dólares. A cidade ainda estava cheia e por isso o atendimento de uma forma geral era muito ruim, até o carro alugado não foi uma boa experiência. Orlando é um lugar muito melhor para compras do que Miami, e está vazio nessa época do ano, pode ser uma opção melhor.

Um dos programas que não fiz foi ter ido até Key West no primeiro fim de semana. Se eu pudesse voltar no tempo e não tivesse programado de encontrar o Kurt em Miami, eu teria desembarcado no aeroporto, pego um carro conversível (explico melhor a seguir…) e ido direto para Key West para de lá alguns dias depois, também de carro, ir para Orlando e depois Daytona, sem me hospedar em Miami. Se vocês olharem no mapa, parece uma idéia meio insana já que Key West fica cerca de 3 a 4 horas ao sul de Miami, enquanto Orlando e/ou Daytona umas 5 horas ao norte, mas vale a pena. Key West é lindo, e a viagem de moto ou de carro conversível por aquelas pontes históricas é inesquecível.

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Aqui está a primeira dica: o carro alugado. Existem várias companhias e todas elas oferecem o preço básico da diária do carro mais barato na faixa de 35 dólares ou até menos nos pacotes de uma semana, mas não se engane, nessa tarifa não tem nenhum seguro ou taxa inclusa. Para tirar o carro da loja é altamente recomendável pagar as tarifas de seguro. São três tarifas básicas: o LDW (Loss Damage Waiver) custa em média 24 dólares por dia e isenta o locador de responsabilidade sobre o veículo em caso de roubo ou acidente, o SLI (Supplemental Liability Insurance) custa em média 13 dólares por dia e cobre danos causados a terceiros ou a propriedades de terceiros em caso de acidente, isentando o locador e demais motoristas da família, e por fim o PAE (Personal Accident and Effects) custa em média 5 dólares por dia e protege o locador e seus familiares contra danos sofridos em acidentes e perda de bens pessoais. Ou seja, na prática você precisa dos três seguros para que suas férias não se transformem em um inferno em caso de acidente. Portanto quase 50 dólares por dia a mais, só de seguros, se considerarmos que os impostos (em média 8%) são calculados por fora, mas fique atento quanto ao cartão de crédito que você possui pois muitas vezes ele dá cobertura ao LDW (o mais caro), leia atentamente o regulamento dos benefícios do seu cartão, pois geralmente os do tipo Gold ou Platinum cobrem isso dentro de algumas regrinhas de uso.

Ainda sobre aluguel de automóvel, as companhias praticam a diária cheia, ou seja, se você pegar o carro as 6:00 da manhã, e quiser pagar apenas uma diária, você tem que devolver até as 6:00 da manhã do dia seguinte, senão você terá que pagar mais uma diária e todos os seguros correspondentes previamente contratados. Veja meu caso, cheguei a Miami as 6:00AM e três dias depois peguei um vôo para Orlando (deveria ter ido de carro…) as 10:00AM, portando devolvi o carro as 8:00AM para dar tempo de fazer o check in e passar pela segurança do aeroporto antes de embarcar. Resultado: me cobraram 80 dólares (30 do carro, 50 dos seguros) por essas duas horas excedidas!

E americano não discute, não tem jeitinho, nem desconto. Tentei negociar ao menos os seguros, já que o carro ficaria no pátio, mas nem isso consegui. Porém eles têm suas políticas de indenização ao usuário bastante claras e rápidas de resolver: ao entregar o carro avisei que não estava satisfeito porque o vidro traseiro estava sujo quando peguei o carro e eles me indenizaram em 40 dólares (um voucher para uma próxima locação, em Orlando, no mesmo dia). O vidro estava realmente sujo, eu não teria essa idéia tão brilhante se não houvesse um motivo, mas o fato é que a indenização foi pelo desconforto, isso pode, mas reclamar pela diária extra não. Valeu ao menos as tais 2 horas extras ficaram pela metade do preço. Fiquem atentos com os horários de entrada e saída dos vôos, às vezes é mais barato trocar de vôo do que pagar uma diária extra de carro.

Dá gosto visitar uma lojas dessas… Ainda sobre o carro alugado, o tal conversível: pense bem, você está de férias, curtindo a Flórida com aquelas praias lindas, Key West, Daytona, o céu está lindo e a temperatura amena. Porque não um conversível? Como o seguro é fixo, não importando o carro, os quase 50 dólares por dia você irá pagar de qualquer jeito, então você tem a opção de pagar 30 por um carro do tamanho de um Fiesta no Brasil, ou 70 por um Mustang conversível. Garanto a você que nesses 10 dias de viagem, os 400 dólares a mais pelo Mustang Conversível valerão muito nas suas lembranças. Por causa de uma economia porca eu passei 10 dias andando com um Suzuki “Zé Ruela” que nem tranca eletrônica com alarme tinha, vira e mexe eu esquecia alguma porta aberta. Se fosse no Brasil eu teria perdido boa parte das compras.

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Digamos que vocês leram essa coluna, alugaram um ótimo carro, foram para Key West passar uns dias dispensando a estadia em Miami e agora estão indo de carro para Daytona, aproveitando as ótimas estradas americanas e parando em todas as lojas de motos pelo caminho. Deixo aqui a segunda dica: Daytona é ótimo, mas por causa do evento é tudo muito caro. Hotel é caro, a comida é cara e ruim, a cidade é uma zona e você só encontra atrativos relacionados às motos ou aos motociclistas. Acredite, depois de uns 3 dias você começa a ficar de enjoado. Eu sugiro ficar em Orlando, a apenas uma hora de viagem por uma estrada excelente e sem pedágio, e ir a Daytona dia sim, dia não, para passar o dia de acordo com sua disposição. Em Orlando os hotéis são bem mais baratos, há boas ofertas na faixa de 60 dólares a diária contra mais de 200 dólares em Daytona, além dos famosos shoppings Outlets. É incrível o que você encontra nesses shoppings, eu renovei todo meu guarda roupa comprando calças Calvin Klein por 20 dólares à peça, ou bermudas GAP por 15 dólares, sem contar com as camisas, casacos de couro, moletons de ótimas marcas. Tudo muito barato, mais barato até do que Miami, e você ainda passeia de Mustang conversível.

Quer comprar uma Harley Sportster 2007? O modelo 883 custa 99 dólares por mês, já a 1200 é mais cara um pouco…

Sobre casacos de couro tenho que dar outra dica: você compra em Orlando, nesses shoppings outlets, casacos excelentes por 50 ou 60 dólares nas promoções 3 por 2, só que são casacos de couro mais sofisticados, não aqueles que usamos nas motos. Em Daytona você encontra os modelos para motociclistas na faixa de 90 dólares, mas se você esperar até sexta ou sábado (últimos dias), vai encontrar até por 55 dólares uma cópia idêntica de um modelo Harley Davidson, com isolador térmico da 3M. Vale a pena pesquisar e comprar nos últimos dias. O casaco que comprei é igual ao original Harley (que custa 375 dólares) e o vendedor costura na hora pra você a logomarca Harley por mais 40 dólares. Eu não tenho nenhum problema em assumir que comprei um modelo “clone” do original, mas “plantar” uma marca falsa é contra meus princípios, e por 40 dólares dá quase pra comprar outro casaco…

Daytona tem 4 pontos principais que vocês não podem deixar de ir, e nesses pontos você encontra várias lojinhas, muitas motos, vários eventos paralelos e muita loucura. O primeiro deles, e talvez mais importante seja a Main Street, uma rua pequena que cruza Daytona Beach em direção a praia por onde passam TODAS AS MOTOS que estão na cidade. É uma zueira imperdível! Recomendo ir pra lá no final da tarde e ficar até a noite, quando o clima esquenta. Pare o carro longe e vá a pé, senão você ficará preso no trânsito.

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Outro ponto importantíssimo é a região ao redor do Daytona Speedway, onde todos os fabricantes expõem suas motos e você pode, se quiser, dar uma voltinha nas demos bikes. Quase todo fabricante tem uma área para teste drive, desde as fantásticas BOSS HOSS, até as conhecidas Harley Davidson, Triumph, Victory, Yamaha, BMW, etc. O problema é que nem todas ficam na mesma área de demos, é preciso descobrir onde estão as demos mais exóticas como a da Aprilia RS1000 que só vi no último dia. Para andar, basta preencher uma ficha, fornecer sua carteira de motorista e estar devidamente paramentado para aguardar na fila. Sem saber dessa moleza dos testes drives acabei indo de bermuda no dia que estava mais vazio, e precisei pegar calças emprestadas. Capacete nem é tão problemático porque eles fornecem os famosos coquinhos, já que na Florida capacete não é obrigatório. Quem é membro do HOG, pelo menos em 2007 a Harley Davidson disponibilizou um estacionamento dentro do autódromo de graça, perto de onde ficam os boxes. É indescritível a sensação de andar por dentro da pista do Daytona Speedway.

Vosso colunista, super bem equipado de bermuda e coquinho, andou de Night Rod Special…

Visita obrigatória é a região onde está a maior concessionária Harley do mundo, há umas 11 milhas ao norte de Daytona no entroncamento de duas grandes rodovias. A famosíssima loja JPCycles também fica nessa região, junto com revendas da Arlen Ness e outras marcas famosas. De cada lado da estrada você encontra algum atrativo, desde pequenas feiras até exposições muito interessantes. Um dos que eu mais gostei foi a simulação em dinamômetro de Drag Race com motos. Vi uma Hayabusa toda mexida tomar um couro de uma velha Kawasaki GPZ900 turbinada. Funciona assim: imagine a parte traseira de um longo caminhão do tipo cegonha, onde estão montados o dinamômetro e a pista simulada de 400 metros, com arvore de natal (aquelas lâmpadas de largada) e tudo mais. No final da pista um painel eletrônico dá em tempo real a velocidade instantânea de cada moto, o tempo em segundos decorrido e a potência medida na roda. Com as motos devidamente amarradas na posição (qualquer um pode participar) são feitas 3 corridas com as rodas girando sobre os pesados dinamômetros. Ganha o prêmio (não sei qual) aquele que ganhar pelo menos duas dessas três provas.

O barulho é ensurdecedor, eu nunca tinha visto de tão perto motos dessa potência com o giro na faixa vermelha por tanto tempo. O esforço estrutural no quadro dessas motos é incrível, ficam completamente torcidos, também pudera, cada uma marcava mais de 200 cavalos na roda!

Na ida para essa região, pela US1 (uma das rodovias mais importantes da Flórida) você passará por um dos acampamentos mais underground do evento. Nesse lugar vale tudo: não há fabricas patrocinando nada, nem lojas grandes, nem organização rígida. A única coisa que mantém a ordem relativamente é a policia local. Você encontrará concursos de zerinho, ou de quem queima mais borracha, globo da morte, festas completamente malucas, pseudo-hippies totalmente embriagados com suas mulheres semi-nuas, e tudo mais. Acho que é o local que preserva melhor o espírito de um evento de motos, sem todo o aparato mercadológico. Imperdível!

Para terminar, se você seguiu meus conselhos e se hospedou em Orlando, depois de um fim de semana em Key West e uma belíssima viagem de carro até Daytona, separe alguns dias para levar a mulher nos parques. Dê a ela um pouco de diversão já que ela está te aturando com essa coisa de moto desde o Brasil. Uma ida ao Universal Studio, Ilha da Aventura, Disney ou Sea World vão coroar esses dias com a companheira.

Minha esposa em plena Universal Studios, bem vazia nessa época do ano.

Em termos de custos a coisa toda varia muito de acordo com o tempo de estadia, padrão dos hotéis, tipo de carro, etc. Pela minha experiência o custo do carro é o maior dos itens isolados, mas ele pode ser compartilhado se forem dois casais em grupo. Outra opção é um pacote fechado por uma agência de turismo especializada. Há algumas em São Paulo que operam com bastante sucesso nessa área, se por um lado você perde um pouco da liberdade de locomoção, por outro você faz novos amigos e isso é sempre muito bom. Com algum planejamento não vai ficar caro, especialmente com o dólar abaixo de 2 reais.

Quanto ao Kurt, ele me acompanhou em Daytona e se animou com as motos, acabou comprando alguns dias depois uma V-Strom 650 zero km por 5.700 dólares (pouco mais de 11 mil reais) e já está fazendo seus passeios. Acho que vou comprar uma também pra deixar na casa dele, assim podemos ir pilotando juntos a Key West, entre outros locais fantásticos da florida, com as esposas na garupa. Considerando o que se gasta no Brasil com seguros e impostos pra ter uma moto dessas, dá pra ir umas 4 vezes pra Miami curtir a bike.

Kurt e eu, ao lado de uma Triumph Boneville, sonho de consumo do nosso Motonliner João Tadeu…

p_c