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Foto: Depois de 3 d‚cadas a convivˆncia entre moto e carro melhorou

Foto: Depois de 3 d‚cadas a convivˆncia entre moto e carro melhorou

Quanto tempo um motociclista pode ganhar pilotando de forma irrespons vel?. Minha rotina di ria come‡a da forma mais prosaica poss¡vel: ligo o r dio e preparo o caf‚ da manhÆ.  uma rotina agrad vel porque moro em um bairro muito silencioso e sossegado, com muita  rea verde e p ssaros. O que estraga esse ritual ‚ ouvir diariamente o boletim do trƒnsito com a mesma frase “trƒnsito complicado por causa de um acidente envolvendo carro e moto”. Ou‡o essa not¡cia todo dia. E o dia todo!

Segundo dados oficiais, na cidade de SÆo Paulo ocorrem trˆs ¢bitos envolvendo motociclistas a cada dois dias. No entanto, tive acesso a documentos confidenciais que revelam outra realidade porque de acordo com a legisla‡Æo brasileira s¢ se considera ¢bito quando a v¡tima morre no local no acidente. Se morrer no dia seguinte, ou at‚ um mˆs depois esse dado nÆo entra nas estat¡sticas oficiais. Isso nos d  um quadro muito pior do que ‚ veiculado na r dio.

J  ouvi, li – e escrevi – muitas teorias sobre seguran‡a de motociclista. Se algu‚m perguntar para qualquer autoridade de trƒnsito como resolver a “questÆo do motociclista” ouvir  um leque de solu‡äes todas geniais, exeq¡veis e eficientes. Da mesma forma que todo brasileiro ‚ um t‚cnico de futebol, todo t‚cnico de trƒnsito ‚ um potencial santo milagreiro. Pelo menos na teoria! Periodicamente aparece um vereador em alguma cidade do Brasil que apresenta um projeto de lei para melhorar a seguran‡a dos motociclistas com propostas que vÆo desde a obrigatoriedade de um colete com air-bag, passando pela proibi‡Æo de transportar passageiros na garupa, at‚ o absurdo de sugerir a proibi‡Æo do uso do capacete como forma de expor o rosto desses marginais que usam motos para cometer pequenos – e grandes – delitos.

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Foto: Pel¡cula escura: falta de visÆo atrav‚s do vidro

Foto: Pel¡cula escura: falta de visÆo atrav‚s do vidro

Soci¢logos, psic¢logos, engenheiros, pol¡ticos e jornalistas apresentam teses das mais diferentes para justificar esse elevado ¡ndice de acidentes, com a inevit vel carga preconceituosa de quem s¢ trata do assunto por oportunismo. Recentemente li uma pesquisa realizada por um soci¢logo relacionando pela primeira vez o n¡vel social e o grau de instru‡Æo das v¡timas de acidentes de moto. Parecia que o estudioso tinha descoberto a p¢lvora! Eureka! Aten‡Æo comunidade cient¡fica do Brasil, existe sim uma rela‡Æo entre acidente de trƒnsito e n¡vel social!

Com certeza o autor desse estudo ficaria embasbacado se atravessasse toda a ca¢tica cidade de SÆo Paulo por aquela imoralidade vi ria chamada Marginal, pegasse um aviÆo em Guarulhos (SP) e baixasse em Estocolmo para descobrir um trƒnsito muito organizado. Mais ainda: que os motoristas e motociclistas suecos obedecem as leis de trƒnsito, respeitam-se mutuamente e apresentam um baix¡ssimo ¡ndice de v¡timas fatais no trƒnsito. Seria capaz de o estudioso voltar com a conclusÆo que loiros se envolvem menos em acidentes! Ou que o n¡vel de instru‡Æo mais elevado dos suecos fazem-nos tamb‚m motoristas e motociclistas de alto n¡vel?

Mas ‚ àBVIO que existe uma rela‡Æo entre v¡timas e o n¡vel social e grau de instru‡Æo. Assim como a idade! Desde o come‡o da industrializa‡Æo de ve¡culos motorizados sabe-se que jovens se envolvem mais em acidentes. Ali s, at‚ mesmo antes de inventarem a moto e o carro!

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Seres humanos tˆm caracter¡sticas pr¢prias j  conhecidas desde o Homo Sapiens. Uma delas est  associada … onipotˆncia, ou seja, aquela sensa‡Æo de que nada de ruim acontece com ele. Jovens entre 15 e 25 anos sÆo, por natureza, onipotentes. NÆo ‚ por acaso que a idade militar ‚ 18 anos. Os senhores da guerra sabem perfeitamente que um jovem ‚ capaz de se atirar de cabe‡a numa linha de frente porque tem a certeza de que nÆo levar  um bala‡o no meio da fu‡a! Nunca se viu um ex‚rcito de quarentäes no front porque um homem maduro sabe muito bem o estrago que um proj‚til faz! Jovens acreditam que tudo que tem de ruim no mundo s¢ acontece com os outros. Por isso se arriscam. E por isso morrem!

S¢ isso j  explicaria muito dessa horrorosa estat¡stica. Mas, como dizia Henry Ford, “inventor” do autom¢vel (e do trƒnsito!), “acidentes nÆo acontecem, mas sÆo provocados”. Isso mesmo, um acidente precisa de uma sucessÆo de eventos para terminar em acidente! Por isso nÆo basta baixar um batalhÆo de soci¢logos com pesquisas financiadas pelo Estado para tentar rastrear o perfil das v¡timas, porque elas nÆo de arrebentam sozinhas, precisam necessariamente de um segundo (ou terceiro) elemento!

Socializa‡Æo – J  contei v rias vezes que tamb‚m fui motoboy. Isso foi em 1977, ou seja, exatos 30 anos atr s. Em trˆs d‚cadas a cidade de SÆo Paulo mudou, cresceu, encheu de gente e de ve¡culos. E esses rec‚m motociclistas que reclamam da falta de respeito por parte dos motoristas ficariam estarrecidos se pudessem entrar no t£nel do tempo e pilotar uma moto no final dos anos 70! Aqueles motoristas sim desrespeitavam (ou melhor, odiavam) as motos. Pode segurar o queixo, mas hoje em dia os motoristas respeitam mais as motos do que h  30 anos! Hoje eles deixam um espa‡o no corredor e facilitam nossa passagem porque na garupa do crescimento do mercado de motos no Brasil veio a “socializa‡Æo” desse ve¡culo. Dificilmente um cidadÆo de uma grande cidade nÆo tem em seu c¡rculo de amizade e familiar um motociclista. Sem contar a quantidade de motoristas-motociclistas.

A populariza‡Æo da motocicleta ajudou a desmistificar esse ve¡culo chamado antigamente de “cavalo de a‡o”, sempre associando   imagem de aventura e rebeldia. Em 1977 foram produzidas 32.791 motos no Brasil, segundo dados da Abraciclo, associa‡Æo dos fabricantes de motocicletas. Em 1987 foram 181.500. Para 1997 houve uma expansÆo exponencial com 426.547 motos produzidas. E a mesma associa‡Æo espera fechar o ano de 2007 com 1.650.000 motos fabricadas apenas pelas marcas associadas. Era mais do que natural que o n£mero de v¡timas subisse na mesma propor‡Æo.

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Na ‚poca dos meus av¢s os crimes eram raros e bandidos que invadiam as casas para furtar eram at‚ romanceados. Ser v¡tima de violˆncia era assunto para reuniÆo familiar. Hoje ‚ quase imposs¡vel achar algum cidadÆo que nÆo tenha sido v¡tima direta ou indiretamente de um ato de violˆncia. Virou o padrÆo, ou o “default” como gostam de chamar os jornalistas antenados.

O que as estat¡sticas nÆo revelam (ou mascaram) ‚ a mais absoluta falta de investimentos na infra-estrutura da cidade para receber esse crescimento. E olha que estou me referindo s¢ …s motocicletas! Se em 1977 j  se usava as Honda e Yamaha 125 para levar e buscar documentos foi preciso esperar trˆs d‚cadas para que autoridades e soci¢logos olhassem para essa questÆo?

Na condi‡Æo de porta-voz e testemunha viva desse crescimento, vou jogar mais luz – se poss¡vel um holofote – nesse estudo de gabinete! Parem de olhar para as v¡timas e voltem a aten‡Æo ao meio!

(Continua na Parte II)