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Sexto dia: San Pedro de Atacama (CH)

No primeiro dia de descanso em San Pedro fomos buscar por uma casa de câmbio ou um caixa eletrônico, pois até aquele momento não tínhamos nada em peso Chileno. Como as taxas das casas de câmbio estavam muito ruins, optamos por sacar dinheiro direto do caixa eletrônico. Com ‘efectivo’ (dinheiro) em mãos, fomos atrás das empresas de turismo. San Pedro é famosa por oferecer diversos passeios pela região, que podem ser feitos de modo particular, mas estávamos em busca de sossego, a aventura ficaria por conta da viagem em si.

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O maravilhoso por do sol no Valle de La Muerte

O maravilhoso por do sol no Valle de La Muerte

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Fizemos orçamentos com várias empresas e acabamos fechando o contrato com uma meio termo, nem a mais cara nem a mais barata. Já tinha uma ideia de quais passeios faria, isso agilizou o processo de pesquisa. Os passeios ficaram divididos da seguinte forma:

Dia 1 – tarde, passeio ao Valle de La Luna, com visita ao Valle de la Muerte. À noite, tour astronômico.

Dia 2 – Passeio Piedras Rojas, passeio que inclui visita às Lagunas altiplanicas, a Reserva Nacional dos Flamingos.

Dia 3 – manhã, Geisers del Tatio, passando pelo povoado de Machuca, com vista para o vulcão Putana. Tarde, Laguna Cejar.

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Paradinha para forrar o estômago, afinal ninguém é de ferro

Paradinha para forrar o estômago, afinal ninguém é de ferro

Com os passeios contratados, fomos procurar um restaurante e conhecer um pouco da cidade. San Pedro é uma cidade pequena, com ruas não pavimentadas, seus imoveis não podem ultrapassar uma certa altura e todos devem ter as cores branca ou marrom. A maioria da população é de turistas, do mundo todo. Encontramos muitos brasileiros, inclusive trabalhando com turismo, muitos europeus, e muitos chilenos, que eram maioria no nosso grupo de passeios.

Voltamos para o hotel para nos preparamos para o primeiro passeio, ao Valle de La Luna. Como o passeio era à tarde, o ponto de encontro foi na porta da ‘oficina’, onde contratamos os tours. Foi lá que conhecemos o Carlos, nosso guia.

O Valle de La Luna fica bem próximo da cidade de San Pedro. Tem um visual realmente “extraterrestre”. Não se vê vegetação, é tudo pedra, ou melhor, é tudo sal. Antes de chegar ao Valle de La Luna, nosso guia, Carlos, nos levou ao Valle de La Muerte, onde tivemos a visão de diferentes formações rochosas ao fundo, e também do imponente vulcão Licancabur, que pode ser visto praticamente de qualquer lugar da região.

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A estonteante vista da Pedra do Coiote

A estonteante vista da Pedra do Coiote

Saindo do Valle de La Muerte, seguimos para um local bastante frequentado, a pedra do Coiote. Um ótimo local para fotos em uma pedra quase suspensa, um precipício logo abaixo deixa as fotos com um ar cinematográfico.

No Valle de La Luna

No Valle de La Luna

Chegamos então no Valle de La Luna. Recomenda-se não levar mochilas ou outros objetos que dificultem sua movimentação, pois passamos por uma espécie de caverna, bem apertada e que exige um certo preparo físico para ser desbravada. Há pontos em que é preciso rastejar para continuar seguindo. Claustrofóbicos, sugiro que evitem essa parte do passeio. Saindo da caverna, brincamos um pouco de escalada e concluímos o Valle de La Luna, partindo para ver o pôr do sol no alto de um morro.

A subida desse morro também exige um pouco de preparo físico, ou algumas paradas para descanso. Lembre-se que você não está no nível do mar e o oxigênio às vezes some. A vista compensa a malhação. De lá podemos ver toda a beleza do Valle. Um pequeno salar, um anfiteatro, o vulcão Licancabur, e boa parte das cordilheiras. É interessante ver tudo aquilo ir mudando de cor, de acordo com a posição do sol.

Vista panorâmica do Valle de La Muerte

Vista panorâmica do Valle de La Muerte

Voltamos do passeio e fomos descansar para o próximo. O tour astronômico era um passeio que eu fazia questão de contratar. Sou astrônomo amador, adoro observar o céu, e aquela região é uma das melhores do mundo para isso. Seguimos de ônibus para uma região mais afastada do centro de San Pedro, para fugir da poluição luminosa e ter uma visão mais clara do céu.

Passeio astronômico

Passeio astronômico

Ao chegar fomos recepcionados por um casal, os donos da casa, tivemos uma breve explicação do universo e então partimos para a observação de fato. Lá haviam dois telescópios e um binóculo, mas o legal mesmo era ver a olho nu. Vários “fireballs” cruzando o céu do Atacama, uma quantidade enorme de estrelas, a Via Lactea se impondo no meio do céu. Como minha máquina não tem um bom ajuste do tempo de exposição, não pude fazer nenhum registro.

Chegamos já tarde no hotel e fomos dormir para poder aproveitar o passeio do dia seguinte.

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Sétimo dia: San Pedro de Atacama (CH)

O dia começou cedo. Como sairíamos antes do início do desayuno do hotel, pedi para o proprietário se havia a possibilidade dele adiantar o café, ele disse que não tinha como, já que as padarias não abririam tão cedo. Ele então preparou um pequeno lanche e deixou em nosso quarto na noite anterior. Essa é uma prática comum nos hotéis por lá, mas você deve avisar com antecedência, se não fica sem.

Parque Nacional dos Flamingos

Parque Nacional dos Flamingos

Dá para chegar pertinho para observá-los

Dá para chegar pertinho para observá-los

A van do Carlos veio nos buscar na porta do hotel, alguns minutos depois do horário combinado. De lá seguimos para a reserva nacional dos Flamingos. Pudemos observar vários deles, se alimentando, em uma espécie de dancinha, para fazer o alimento se soltar do fundo do lago e ficar mais fácil para a coleta. De lá seguimos para as Piedras Rojas, com altitude de aproximadamente 4.000 metros, o frio imperava. Nem tanto pela temperatura ambiente, mas pela sensação térmica, já que venta muito. Fomos bem agasalhados, mas nem tanto, passamos muito frio. Nada que atrapalhasse vislumbrar a beleza do local.

No caminho tivemos o prazer de encontrar com a bela fauna do deserto, muitas aves, alguns mamíferos, Vicunhas, Lhamas, uma espécie de roedor que se parece com um coelho e até mesmo uma raposa.

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A rica fauna da região

Depois de visitar Piedras Rojas, almoçamos em um pequeno restaurante, que estava incluso quando contratamos o passeio, e de lá partimos para as Lagunas Altiplanticas. São duas lagunas, de um azul intenso. as Laguna Minique e Laguna Miscanti. Terminado os passeios, retornamos ao hotel, saímos para jantar e tratamos de descansar, pois no dia seguinte acordaríamos bem cedo, rumo aos geisers.

Magnífica paisagem em Pedras Rojas

Magnífica paisagem em Pedras Rojas

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Oitavo dia: San Pedro de Atacama (CH)

Frio demais nos Geisers

Frio demais nos Geisers

Acordamos às 4h, tomamos o desayuno previamente preparado pelo dono do hotel e fomos para a porta aguardar o Carlos chegar com a van. Subimos a uma altitude de aproximadamente 4.300 metros sob um frio de -9,6°C.

Foi a primeira vez que experimentei uma temperatura abaixo do zero. Dessa vez fomos bem agasalhados. Eu vesti praticamente todas as minhas roupas, mais a roupa de cordura que utilizo ao pilotar, uma balaclava, touca e luvas. Não passei frio.

Geisers

Geisers

Os gêisers não jorram água a uma altura considerável, mas o vapor, esse sim vai bem alto. No local há uma piscina natural, de água quente onde os mais corajosos se aventuram. Eu adoro água, não podia ficar de fora. Assim que me despi e fiquei só de sunga para encarar a água, não senti tanto frio, acho que era a expectativa que me aquecia. Assim que entrei na água fiquei totalmente relaxado, a sensação da água quente e ver todo mundo do lado de fora parecendo um grupo de esquimós era estranha. Não parecia que dividíamos o mesmo espaço.

As piscinas quentes nos geisers

As piscinas quentes nos geisers

Percebi que a maioria dos que se atreviam a entrar na água eram europeus. O ponto mais disputado da piscina era no começo dela, por onde a água chegava, bem mais quente que na parte mais funda. Por lá, a temperatura era tão alta que eu mal conseguia ficar parado ou tocar o chão, todo em pedras, quase fervendo. Decidi ficar no meio, onde a temperatura era mais agradável. Sair da piscina foi mais complicado que entrar, ali o choque térmico foi grande. Rapidamente me sequei e vesti todas as camadas de roupas que tinha, exceto a de cordura, já não fazia tanto frio como quando chegamos.

Mais geisers

Mais geisers

Tomamos um café da manhã por ali mesmo e depois seguimos para ver outros gêisers, alguns com força para jogar água por quase 2 metros de altura. Nosso guia nos contou que a alguns meses uma turista faleceu ao cair numa das fontes de água quente enquanto fazia fotos do local. Hoje temos pedras delimitando os locais seguros por onde podemos passar, sem correr o mesmo risco.

Saímos da região dos gêisers e seguimos até o povoado de Machuca, uma vila antiga de criadores de Lhamas. Como chegamos tarde não tivemos a oportunidade de provar um espetinho de carne de Lhama. Voltamos para o hotel, e fomos buscar um local para almoçar. Descansamos e já nos preparamos para o último passeio, a visita a Laguna Cejar.

Encontramos com o Carlos na porta da ‘oficina’ e de lá partimos para a Laguna Cejar, no meio do Salar do Atacama. A concentração de sal é tão intensa que o nível de flutuação é maior que o do Mar Morto. Localizado a apenas 20 km de San Pedro e praticamente na mesma altitude, o clima é agradável, não faz frio, e o convite ao banho é inevitável.

O pequeno e bucólico povoado de Machuca, antiga vila de criadores de Lhamas

O pequeno e bucólico povoado de Machuca, antiga vila de criadores de Lhamas

A dica do Carlos foi somente essa, não mergulhe, não molhe a cabeça. Há tanto sal na água que você se sente petrificado ao sair da água. Não queria nem imaginar uma gota daquela água caindo em meus olhos. A força que a água faz ao te empurrar para cima é enorme. Não dá para afundar. Ainda bem, porque a profundidade da lagoa é desconhecida. Só tenha cuidado com a câmera, essa afunda com facilidade.

Saímos do banho na Laguna e corremos para tirar o sal com água doce, gelada, disponível ao lado dos banheiros que há no local. Por mais que tentamos, o sal não sai fácil, tiramos o que deu, trocamos a roupa de baixo e voltamos a nos agasalhar, pois o vento quando começa, traz com ele aquela sensação térmica de muito frio.

Banho nas águas mornas da Laguna Cejar

Banho nas Lagunas. A água é tão salgada que fica difícil afundar

Seguimos então para os Ojos del Salar. Duas lagoas de água doce que do alto se parece com olhos no meio do Salar do Atacama. É possível se banhar por lá também, mas não arriscamos. Tiramos algumas fotos no meio do Salar e continuamos até a Laguna Tebinquiche, onde pudemos ver o por do sol acompanhado de uns snacks e suco, ou Pisco Sour, para os que sentem saudades da caipirinha brasileira.

Ojos do Salar

Ojos do Salar

Com esse passeio terminamos nossa aventura por San Pedro de Atacama. Por lá encontramos vários outros motociclistas brasileiros, incluindo os paulistas que conhecemos em Campo Mourão. Esse grupo me disse que só iriam até ali, não chegariam nem mesmo a seguir até a Mão do Deserto. Voltariam pelo mesmo caminho da vinda, com um pequeno desvio até a entrada da Bolívia.

Foto com o Coronel Motta Lima

Foto com o Coronel Motta Lima

Um outro motociclista que conhecemos foi o Coronel Motta Lima, um conterrâneo, de Salvador, que estava viajando sozinho em sua Yamaha Super Tenere 1200cc. Voltaríamos a encontrar o Motta em Antofagasta, e em Caldera, onde nos despediríamos e continuaríamos os contatos apenas por WhatsApp, pois ele iria mais ao sul do Chile, sem data para retorno ao Brasil. Também fizemos amizade com um casal dinamarquês, o George e a Lene, que estão cruzando o Chile e a Argentina de carro.

A noite no hotel foi para reorganizar as coisas dentro dos baus e voltar à rotina da estrada, despedindo-nos das belezas de San Pedro, mas continuando a percorrer o grande Atacama.

Não perca amanhã a continuação da viagem

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O motonliner Danne Meira Castro Aguiar enviou este relato através do “Você no Motonline”. Mande você também o seu texto e o compartilhe com milhares de leitores que, como você, também amam as motos.