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Em prosseguimento à debandada geral de empresas do Salão Duas Rodas 2019, agora é a vez de Dafra e KTM anunciarem que não vão participar do evento, que, por enquanto, ainda é o maior do setor de motocicletas da América Latina. O motivo, segundo o comunicado conjunto das empresas, é a necessidade de relacionamento direto com novos e potenciais consumidores através de test-ride, o que o Salão Duas Rodas não proporciona, além do clamor por mudanças no formato e o custo alto de participação, apesar de apenas a Ducati ter manifestado que o custo é um fator decisivo.

Salão é sonho

Salão é sonho

O fato é que para nós, que acompanhamos o setor de motocicletas desde o início da produção de motos por aqui na década de 1970, um Salão Duas Rodas com importantes e sensíveis ausências não é bom para ninguém. Nem para quem já confirmou a participação – Honda, Yamaha, Kawasaki, Suzuki, Haojue -, tampouco aos que ainda não confirmaram, como Triumph e Royal Enfield, e muito menos aos ausentes confirmados – BMW, Harley-Davidson, Ducati, Dafra e KTM. Para o setor é um verdadeiro desastre, sobretudo após o início da suada retomada de produção e vendas em 2018 após seis anos de quedas sucessivas.

O assunto ocupa espaço na imprensa especializada desde o início de 2019, quando a Reed Exhibitions Alcântara Machado anunciou a renovação do contrato com a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) garantindo a realização do Salão até 2025. Logo em seguida, a BMW anunciou que não participaria do evento e na esteira do impacto da decisão da BMW, Harley-Davidson e Ducati também declinaram do Salão Duas Rodas. E agora, Dafra e KTM juntas pularam fora. É bom lembrar que a não participação da KTM é conseqüência da decisão da Dafra, já que esta última é a importadora, montadora e distribuidora oficial das motos KTM no Brasil.

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O visitante quer ver no Salão o que não vê nas ruas

O visitante quer ver no Salão o que não vê nas ruas

Salão Duas Rodas: qual o problema?

Por enquanto nem a empresa promotora, tampouco a Abraciclo se pronunciaram oficialmente sobre esta debandada geral do Salão Duas Rodas. Mas parece claro o desconforto que o assunto causa a executivos que atuam no setor e razões para isso não faltam. A começar pela falta de unidade na Abraciclo, que vê quatro das dez empresas do setor de motocicletas associadas à entidade fora do Salão Duas Rodas 2019, apesar dela, Abraciclo, ser a entidade que dá caráter oficial ao evento. Alguns até podem dar de ombros e orgulhosamente dizer que as empresas que já confirmaram presença no evento detém mais de 95% das vendas de motos no Brasil.

No entanto, a preocupação não é pela representatividade do evento em termos de volume do mercado, mas o fato de que pode haver um esvaziamento em termos de público e uma frustração geral ao se perceber que o maior evento do setor não reúne todas (ou a maioria) das principais empresas do setor. É bom lembrar que o objetivo do Salão Duas Rodas – como de todas as outras mostras dos segmentos de motocicletas e de automóveis em todo o mundo – é mostrar novidades, apontar tendências e acima de tudo, oferecer a oportunidade aos consumidores de sonharem com motos que não se vê nas ruas todos os dias, as chamadas “motos dos sonhos”.

Por fim, mas não menos importante, a ausência de grandes marcas no contexto do mercado brasileiro, apesar de não representarem grande volume de vendas, causa uma enorme desconfiança nos consumidores porque a maioria não vai ter a preocupação de entender as razões de cada uma, mas vai apenas desconfiar da saúde do setor e acumular dúvidas quanto ao compromisso de cada marca ausente com o mercado brasileiro. De fato, há algo que não cheira bem. Com a palavra, Abraciclo e Reed Exhibitions Alcântara Machado.

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Fotos: Salão Duas Rodas

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Sidney Levy
Motociclista e jornalista paulistano, une na atividade profissional a paixão pelo mundo das motos e a larga experiência na indústria e na imprensa. Acredita que a moto é a cura para muitos males da sociedade moderna.