A moto onipresente em trilhas e competições off-road em todo o Brasil está de partida. A Honda confirmou nesta semana o fim da produção da CRF 230 F e, inclusive, já retirou o modelo de seu site. Relembre a história, ficha técnica, números e até o primeiro teste que fizemos com ela, feito lá em 2006.
- Relembre o teste da CRF 230, de 2006
- Test ride Honda CRF 250F: força e diversão
- Novas CRF 250 L e Rally: motos que queremos no Brasil
Tudo começou em 2002, quando a Honda passou a fabricar em Manaus uma moto específica ao uso fora de estrada, baseada na conhecida XR 200R. A produção atendia apenas mercados externos, como Europa e América do Norte, mas tinha tudo para fazer sucesso por aqui também.
Dito e feito. Alguns anos depois o dólar enfraqueceu em relação ao real, a ‘nossa’ CRF tornou-se menos interessante aos outros países e a Honda resolveu escoar a produção ao mercado interno mesmo. A decisão veio ao encontro de infinitos pedidos de clientes e concessionários para oferecer a moto no Brasil, até porque havia muita gente adaptando as XR para as trilhas. Assim, a CRF 230 foi lançada no Brasil em 2006.
Não é exagero dizer que a CRF 230 logo se tornou um sucesso no Brasil. Atendendo também o mercado interno, em apenas três anos o modelo quase bateu a marca de 50 mil unidades produzidas. Em 2010 houve uma mudança de nomenclatura, onde a moto vendida no país passou a se chamar CRF 230F e a ofertada ao exterior seguiu sem o F, de ‘Fun’.
CRF 230 ou TT-R 230
Claro, oferecer a CRF aos brasileiros também significava rivalizar com a Yamaha em mais uma categoria. A marca dos diapasões oferecia a TT-R 230 por aqui desde 2004, já nacionalizada, sem qualquer concorrente direto. Os números de venda da Yamaha eram bons, mas sofreram com a chegada da concorrente. Desta forma, caíram das 8.583 unidades produzidas em 2005 para 2.602 em 2010, um degrau de quase 70%.
CRF 230F ou CRF 250F
A CRF 230F dividiu a preferência dos trilheiros apenas com a TT-R de 2006 até 2017, ano que antecedeu a chegada da Honda CRF 250F. No teste ride de apresentação da novidade pudemos rodar com as duas CRF, intercalando entre 230 e 250, o que deixava nítida a superioridade do novo modelo.
Enquanto a 230 tinha raízes na obsoleta XR 200, lançada em 1994, a 250 acoplava o motor da CB 250F Twister a um projeto inédito, sem compartilhar praticamente nenhum item com sua antecessora. O resultado era uma moto mais potente, com aceleração sem trancos (fruto da injeção eletrônica) e melhor ciclística, graças ao novo chassi, mais obediente em mudanças de direção. Até mesmo seu maior peso (114 kg contra 108 kg da antecessora), talvez maior ponto negativo nesta comparação, era anulado pela melhor relação peso x potência: 5,1 kg/cv contra 5,6 kg/cv.
Na apresentação da 250F a Honda disse acreditar que um modelo não iria canibalizar o outro, mas é natural que os clientes optassem pelo novo modelo em detrimento ao antigo. Logo a 230F sentiu a chegada da irmã e viu sua produção anual despencar de 10.486 unidades/ano em 2010 para meras 1.488 em 2020. Um abismo de 85%. Era o fim da CRF 230.
CRF 230 F ainda vale a pena?
Se a CRF 230 é boa? Bem, os números falam por si. Foram produzidas mais 190 mil unidades do modelo (algumas destas compartilhadas com o mercado externo, antes da Honda reorganizar a nomenclatura), numa prova de sua aceitação pelo mercado. Além disso, no Brasil a CRF 230 está presente em todos os eventos fora de estrada, seja num descompromissado trilhão de final de semana ou acelerando numa categoria iniciante de uma prova de velocross ou enduro.
Motivos para seu sucesso não faltam. Primeiro, a robustez do projeto que tem raízes na já citada XR 200R, um modelo global desenvolvido pela Honda nos anos 1990. Segundo pela facilidade de encontrar peças de reposição e boa aceitação do projeto para, digamos, vários tipos de upgrade. Ou seja, melhorar o desempenho, força do motor ou eficiência das suspensões da CRF 230 não é tarefa difícil.
E, claro, é uma boa moto. Com pouco mais de 100 kg, era uma das mais leves do mercado nacional na data de seu lançamento. O motor produz 19,3 cv a 8.000 rpm e 1,92 kgf.m de torque a 6.500 giros, entregando força em baixas e médias rotações. Sua suspensão, com 240 mm de curso na frente e 230 mm atrás, praticamente desconhece a expressão ‘fim de curso’. Por fim, a altura do banco não era proibitiva nem mesmo aos ‘atletas’ menores, pois o assento está a apenas 872 mm do solo – para se ter uma noção, a importada CRF 450R tem quase 10 cm a mais, com 965 mm.
Motos Off Road 200 a 250 cm³ (Produção) |
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Yamaha TT-R 230 | Honda CRF 230F |
Honda CRF 250F
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2002 | 9.353* | ||
2003 | 16.197* | ||
2004 | 6.499 | 16.859* | |
2005 | 8.513 | 15.305* | |
2006 | 9.583 | 15.032** | |
2007 | 8.008 | 15.911** | |
2008 | 5.670 | 15.847** | |
2009 | 2.304 | 7.021** | |
2010 | 2.602 | 5.451 | |
2011 | 2.601 | 4.580 | |
2012 | 3.202 | 6.234 | |
2013 | 3.300 | 9.262 | |
2014 | 4.001 | 12.581 | |
2015 | 2.700 | 11.679 | |
2016 | 3.400 | 7.100 | |
2017 | 3.400 | 9.574 | |
2018 | 3.250 | 10.486 | 6.580 |
2019 | 2.250 | 4.119 | 16.286 |
2020 | 2.000 | 14.88 | 14.297 |
TOTAL | 73.283 | 194.079 | 37.163 |
Legenda:
* – motos fabricadas apenas para exportação
** – motos fabricadas para exportação e mercado interno
Sem asteriscos: motos fabricadas apenas ao mercado interno
E o preço?
Ah, este era um dos principais atrativos da CRF 230F. Como o modelo custava muito menos que praticamente todas as demais motos off road à venda no Brasil (a grande maioria importada) e tinha as já mencionadas qualidades, acabou se tornando a entrada oficial de quem estava iniciando no fora de estrada. Assim, a CRF 230F era uma das motos off road mais baratas do Brasil.
Baixo investimento, facilidade de manutenção ou posterior venda, muita diversão. Essa era a receita da 230. Até o mês passado, segundo a FIPE, o modelo podia ser encontrado nas concessionárias custando aproximadamente R$ 15.314 – ante os R$ 18.222 da CRF 250F. Mas o farto mercado de usadas tem opções mais em conta para quem tem menos grana para investir em lazer. De acordo com a Tabela, o preço médio de uma 2007 é de R$ 7.007, enquanto uma 2012 custa R$ 8.856.
São motos usadas e de uso no fora de estrada, então é natural que o preço irá variar bastante entre uma que acelerou em competições e outra que rodou apenas em pacatos passeios de final de semana. Da mesma forma, o investimento que ela recebeu em upgrade e acessórios também irá influenciar o preço final. Desejamos sorte na escolha e diversão no mato.
Ficha Técnica CRF 230 F |
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MOTOR | |
TIPO |
OHC, Monocilíndrico, 4 tempos, arrefecimento a ar
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CILINDRADA | 223 cc |
DIÂMETRO X CURSO | 65,5 x 66,2 mm |
CARBURADOR |
PD9CE (Diâmetro do Venturi 26,0 mm)
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SISTEMA DE LUBRICAÇÃO |
Forçada por bomba trocoidal
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RELAÇÃO DE COMPRESSÃO | 9,0 : 1 |
SISTEMA DE PARTIDA | Elétrica |
TORQUE MÁXIMO | 1,92 kgf.m a 6.500 rpm |
POTÊNCIA MÁXIMA | 19,3 cv a 8.000 rpm |
TRANSMISSÃO | 6 velocidades |
EMBREAGEM |
Multidisco em banho de óleo
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SISTEMA ELÉTRICO | |
IGNIÇÃO | CDI |
BATERIA | 12V – 4 Ah (10 horas) |
FAROL | 35W |
CAPACIDADES | |
TANQUE DE COMBUSTÍVEL | 8,2 litros |
ÓLEO DE MOTOR | 1,2 litro |
CHASSI | |
TIPO | Berço semiduplo |
SUSPENSÃO DIANTEIRA/ CURSO |
Garfo telescópico/ 240/ 216 mm
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SUSPENSÃO TRASEIRA/ CURSO | Pro-link / 76,4/ 230 mm |
FREIO DIANTEIRO / DIÂMETRO | A disco / 240 mm |
FREIO TRASEIRO / DIÃMETRO | A tambor / 110 mm |
PNEU DIANTEIRO |
80 / 100 – 21 NHS MT 320H
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PNEU TRASEIRO |
100 / 100 – 18 NHS MT320H
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DIMENSÕES | |
COMPRIMENTO X LARGURA X ALTURA | 2059 x 812 x 1190 mm |
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS | 1372 mm |
DISTÂNCIA MÍNIMA DO SOLO | 305 mm |
ALTURA DO ASSENTO | 872 mm |
PESO SECO | 107 kg |
PREÇO PÚBLICO SUGERIDO (lançamento, 2006) |
R$ 9.963,00 |
PREÇO MÉDIO MODELO 2007 (FIPE, fevereiro 2021) |
R$ 14.025,00 |
PREÇO MÉDIO MODELO 2020 (FIPE, fevereiro 2021) |
R$ 7.007,00 |