Quando o assunto é rali, o primeiro nome que vem à nossa mente é Dakar. Afinal, é o maior e mais tradicional evento off road do planeta, criado nos anos 1970 e que até hoje consegue se reinventar e cativar a atenção do mundo todo.
Mesmo que você não seja um aficionado por corridas de rali, com certeza já parou para olhar carros e motos sobre as dunas de areia do deserto. No entanto, nada disso seria possível se não fosse a iniciativa de Thierry Sabine, o criador do Rally Paris-Dakar. Conheça sua incrível história.
A história de Thierry Sabine, criador do Dakar
Nascido em 13 de junho de 1949, em uma família de boas condições financeiras, Sabine cresceu em um ambiente onde o amor pela velocidade era passado de gerações. Isso porque seu pai era um dentista e piloto de rali ocasional em Le Touquet.
Logo após Sabine se formar em marketing e publicidade, ele se tornou um piloto de corridas com até certo sucesso em sua carreira. Conquistou a série GT da França, em 1974, e competiu no rali mundial e nas 24h de Le Mans entre 1975 e 1977. No entanto, foi um evento quase fatal em 1977 que mudou o curso de sua vida e, por extensão, o mundo das competições.
Formado em Comunicação e piloto de rali, Thierry Sabine imaginou uma competição que fosse desafiadora como nenhuma outra. Nascia assim o Rally Paris-Dakar
Perdido no deserto
Thierry Sabine se perdeu no deserto da Líbia durante a prova do Abidjan-Nice Rally de 1977, logo após uma tempestade de areia. A bordo de uma Yamaha XT 500, Sabine se perdeu do pelotão. A organização de prova iniciou as buscas para o encontrar, mas em meio ao tapete de areia era impossível ter qualquer sinal dele. Além disso, Sabine ficou sem água e combustível na moto por cerca de 3 dias, lidando com o intenso calor e frio noturno da região. Em determinado momento, a organização da prova encerrou as buscas, dando Sabine como morto.
Dias depois, o piloto de uma pequena aeronave que passava na região avistou Thierry Sabine e o salvou do deserto. No momento do resgate, ele já estava no limite da desidratação. Segundo contam os relatos, o piloto do avião disse “meu amigo, daqui para a frente, tudo o que você viver será lucro”. A história conta que, mesmo em meio a essa situação desesperadora, Sabine se encantou com a paisagem e prometeu que caso sobrevivesse, criaria a maior prova de rali que o mundo já viu.
Do desespero no deserto, Thierry Sabine idealizou o Paris-Dakar
Portanto, o que poderia ser uma situação de pânico serviu de inspiração pela paisagem e pelos desafios que enfrentou. Assim, Sabine imaginou uma corrida que começaria na Europa, atravessaria o deserto africano e terminaria em Dakar, Senegal. Dessa forma, o primeiro Paris-Dakar Rally idealizado pelo piloto ocorreu um ano depois, em 26 de dezembro de 1978.
A princípio, o rally começava em Paris (França) e terminava em Dakar (Senegal), com rotas variando a cada ano. Os competidores enfrentavam terrenos desafiadores, incluindo dunas de areia, lama, gramíneas e rochas. Por isso, o evento não era apenas uma prova de habilidade de pilotagem, mas também de resistência, com pilotos frequentemente enfrentando condições extremas de calor durante o dia e frio à noite.
A rota mudou, mas o Dakar não
Com o passar dos anos, aumentaram as preocupações de segurança com os pilotos, principalmente relacionadas a ameaças terroristas em algumas regiões da África. Dessa forma, o rali Dakar migrou à América do Sul em 2009.
Aqui, a corrida passou por países como Argentina, Chile, Peru, Bolívia e Paraguai. Infelizmente, nunca houve uma etapa sequer disputada no Brasil. Em 2020, o Rally Dakar mudou-se à Arábia Saudita, marcando uma nova era para o evento, chamada de ‘terceira fase’. Embora, a rota Paris-Dakar não exista mais na competição, o nome rali Dakar deixou de ser o ponto de chegada e se tornou a marca desse evento.
O argentino Kevin Benavides venceu a última edição do Dakar 2023, na Arábia Saudita
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O fim de uma lenda
Sem Thierry Sabine, um dos eventos mais desafiadores e grandiosos do mundo, o rali Dakar, nunca teria existido. Além da sua invenção, suas habilidades de relações públicas transformaram a categoria em um fenômeno global. Infelizmente, Thierry Sabine não viveu para ver o que o Dakar viria se tornar no futuro.
Thierry Sabine costumava comandar o helicóptero em operações de busca durante as competições
Aos 36 anos, em 14 de janeiro de 1986, Thierry Sabine se acidentou com um helicóptero em meio ao deserto de Mali, país africano vizinho de Senagal. O próprio Sabine estava no comando da aeronave, quando tentava localizar um grupo de competidores, aparentemente perdidos na região.
A visibilidade reduziu muito quando uma tempestade de areia se aproximou, fazendo com que Sabine e mais quatro acompanhantes colidissem com uma duna no meio do deserto, provocando a queda do helicóptero.
helicóptero destroçado após o acidente com Sabine
O acidente ocorreu próximo à Árvore Téneré, no meio do deserto. Logo após a morte de Sabine, seu corpo foi cremado e as cinzas espalhadas em volta dessa árvore. Atualmente, o local figura no mapa como a Árvore Thierry Sabine. Até os dias atuais, o local leva uma lápide com a frase icônica do piloto quando se referiu ao Paris-Dakar: “um desafio para os que vão e um sonho para os que ficam”.
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