Felizmente, o mercado de motos brasileiro segue crescendo. Depois de 7 anos, em 2022 enfim voltamos à marca de 1,4 milhão de motocicletas produzidas num calendário. Já o total de emplacamentos foi de 1.362.129 unidades, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Assim, a expectativa da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares) é naturalmente animadora: seguir expandindo e bater 1,5 milhão de motos produzidas já em 2023. Mas esse crescimento está indo em qual direção? Curiosamente, os dados traçam um paralelo entre motocicletas e a realidade atual do país.
A pandemia acentuou a característica desigualdade social no Brasil, algo reletido até no setor de motos
Mercado de motos em 2022
A vida imita a arte. De um lado tivemos aumento do PIB e quase proporcional crescimento da pobreza em 2022, enquanto no segmetno duas rodas vimos recordes em marcas premium e o boom de motos de baixíssimo. É o que podemos observar nos gráficos, criados com base em informações da Fenabrave. Aliás, há muito o que analisar.
Destacamos três movimentos que aconteceram no mercado de motos e que traçam paralelos com o aprofundamento da desigualdade social do país no período. O boom em marcas premium (com destaque para modelos acima dos R$ 100 mil), a retomada de motos de até 50 cilindradas e a relevância das motos oferecidas via aplicativo àqueles que não querem, ou não podem, comprar sua própria moto.
Com uma frota acima de 31,5 milhões (31.554.054 motos, segundo o Denatran) é natural que o grande mercado de motos brasileiro reflita a realidade do país…
O boom de motos premium
Kawasaki, Triumph, Ducati, BMW. Praticamente todas as marcas premium do país tiveram em 2022 um desempenho de vendas superior ao registrado no ano anterior. O grande destaque foi a alemã e seus recordes.
Em 2022, a BMW Motorrad emplacou 12.707 motos no país. Seu modelo de maior vendagem também conquistou uma marca histórica: 5.399 unidades. Foi a primeira vez que a aventureira R 1250 GS comercializou mais de 5 mil motos num único calendário.
Atualmente, as motocicletas da marca estão concentradas nos nichos big trail, trail, naked, sport, custom e touring, com preços variando de R$ 34.990 a R$ 326.500. A GS 1250 tem versões entre R$ 94.900 e R$ 131.500.
Enquanto os ciclomotores e pequenas motos de alguel ganham força, no outro extremo marcas premium vendem como nunca. A BMW que o diga…
A volta dos ciclomotores
Vamos a outro fenômeno: o retorno dos ciclomotores. Baratas, as simplórias motinhos de até 50cc voltaram a ter posição de destaque, com mais de 23 mil unidades emplacadas no ano passado. Acontecimento provavelmente ligado à redução do poder de compra do brasileiro e às altas nos preços das motos 0km. Vale lembrar que hoje há pouquíssimos modelos novos negociados a menos de R$ 10 mil nas lojas.
Enquanto o setor em si cresceu ‘apenas’ 17,7%, o nicho dos ciclomotores disparou em mais de 53% de 2021 para 2022. No ano passado tivemos mais de 23.500 novos ciclomotores nas ruas
Junto do nicho, cresceram as marcas. Após 3 anos de quedas, a Shineray registrou dois de crescimento e fechou 2022 como a terceira marca mais emplacada do país. Atualmente, a chinesa tem pelo menos 4 ciclomotores em seu catálogo.
Situação semelhante viveu a Avelloz, empresa que saltou de 177 motos vendidas em 2019 para mais de 7.700 em 2022. Lembrando que ela oferece apenas um modelo no país, o ciclomotor AZ1.
Motos de aplicativo
Então temos dois segmentos diretamente opostos em expansão. No primeiro, as caras motos premium com seu valor agregado relacioado a status, poder e liberdade. Já no segundo, os acessíveis ciclomotores, voltados à mais básica necessidade de locomoção diária. E é bem próximo a ele que surge o terceiro movimento do mercado de motos 2022, impulsionado pelas motos de aplicativos.
Desde a pandemia o mercado de delivery explodiu e hoje já são mais de 250 plataformas ativas no país. O cenário surgiu como uma possibilidade de renda para milhares de brasileiros e tem basicamente um requisito mínimo: possuir uma moto. Mas se não há grana para comprar uma motocicleta nova (afinal mesmo as mais simples custam acima de R$ 10 mil) e os ciclomotores são fracos para o corre, qual a alternativa? Alugar.
Alugar pode ser a solução caso comprar a própria moto, ainda que seja um modelo simples, seja inviável
Foi assim que nomes como TVS e Mottu surgiram nos dados oficiais da Fenabrave. Só a startup de entregas emplacou mais de 6 mil motos em 2022, destinadas exclusivamente à locação. Para comparação é um número superior ao de marcas estabelecidas no país, como Dafra, Triumph, Suzuki e Harley-Davidson.
Os ano passam e a dupla Honda e Yamaha segue com mais de 90% de participação no mercado
Mercado de motos 2022: desempenho por marcas
Bora ver mais sobre o modo como cada uma das principais marcas de motos do país se saiu em 2022? Lembrando que a fonte para os gráficos são dados de emplacamentos da Fenabrave.
A Honda segue sendo a gigante do setor – então se ela cresce, o mercado cresce. Em 2022 a japonesa voltou a superar a marca de 1 milhão de motos emplacadas e mais de 1,1 milhão de produzidas, considerando também produtos destinados a exportação, por exemplo.
Se o objetivo da Yamaha é crescer em participação no mercado de motos, parece estar no caminho certo. A marca vem mostrando interessantes produtos de baixa cilindrada (só em 2022 tivemos as novas Crosser, FZ 15 e Fluo 125) enquanto deixa as grandes (como atualização das MT 07, 09 e Tracer, além de possíveis lançamentos de Tenere 700, família XSR e R7) de lado. Assim, 2022 deu continuidade ao seu ótimo momento de 2021.
Vamos ao segmento premium. A Triumph segue um lento e gradual crescimento no país. E tem méritos nisso, uma vez que nos mantém a par de seus principais lançamentos globais. Só em 2022 ela trouxe as novíssimas Tiger 1200 e Tiger 660 Sport.
A curva no gráfico da Kawasaki é curiosamente similar ao da inglesa, galgando um degrau por vez. Entre suas principais novidades de 2022 estiveram o lançamento da Z 650 RS, a vinda de modelos da linha 50 Anos da família Z e a atualização da Versys 650.
Em 2022 a Ducati manteve o ritmo de sua retomada inicada no ano anterior e voltou à casa dos 1.000 emplacamentos/ano. Destaque para o sucesso da big trail Multistrada V4S e também outros lançamentos, como a Multistrada V2S, Streetfighter V4 S e Monster 937.
Aqui, o segmento premium sob outra perspectiva. A Suzuki vem reduzindo seu desempenho desde 2017, quando a representante JTZ optou por destinar as vendas de baixa cilindrada às parceiras HaoJue e Kymco, deixando a japonesa apenas na alta cilindrada. Entretanto, com importantes lançamentos previstos para 2023 esse gráfico tende a melhorar em breve.
Fechamos o segmento premium com outro gráfico negativo. Em 2022 a Harley-Davidson seguiu em baixa, num movimento que iniciou após o ótimo resultado de 2019. Lembrando que no ano passado ela trouxe a aguardada big trail Pan America 1250 – e que ja começou 2023 com lançamentos relevantes.
Pare o que está fazendo e contemple o virtiginoso crescimento da Royal Enfield no Brasil. Em apenas 5 anos seu número de vendas multiplicou 31x, rompendo a barreira das 10 mil motos/ano… assim fica fácil entender como o Brasil se tornou o segundo maior mercado da marca e porque estamos na rota de seus principais lançamentos, com pelo menos 3 garantidos para 2023.
Falando em crescimento significativo… A Voltz parece surfar cada movimento da onda de motos elétricas que começa a ganhar força no Brasil. Em 2022 a startup nacional investiu em sua operação e até inaugurou uma fábrica em Manaus, com a expectativa de atender a demanda reprimida e ainda lançar modelos inéditos. O horizonte é positivo.
Igualmente representadas pela JTZ, Haojue e Kymco vivem momentos opostos. Enquanto a chinesa vem apresentando lançamentos (como a custom Master Ride a trail NK 150) e crescimento, a taiwanesa despencou de quase 1.300 para pouco mais de 250 emplacamentos anuais. E em 2023 ainda teremos a Zontes, outra chinesa que fará parte do grupo…
Fechamos esta análise marca por marca do mercado de motos do Brasil com a brasileira mais tradicional. A Dafra surgiu em 2007, viveu tempos dourados com seus ciclomotores em meados de 2012 e hoje parece ter se reencontrado, focando na parceria com a indiana TVS e taiwanesa Sym. Inclusive, há novos frutos chegando ao mercado bem agora.
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