Alguns dos principais movimentos do mercado não geram eventos e nem são transmitidos via live em redes sociais. E foi assim, sem causar alardes, que a Dafra retirou dois modelos do mercado nacional: a street Next 300 e o scooter Cityclass 200i. E tem novidades vindo aí.
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As informações são do gerente de marcas da Dafra, José Ricardo Siqueira, que respondeu nossa reportagem e apresentou alguns norteadores da marca neste novo momento do mercado nacional. Além disso, claro, confirmou o encerramento da montagem dos dois produtos no Brasil.
Dafra: a estratégia de vendas
Como não dispõe de mais de 1.000 concessionárias, como a Honda, ou de uma tradição que vem desde a primeira metade da década de 1970, como a Yamaha, a Dafra precisou trilhar seu próprio caminho para se estabelecer no mercado. A forma encontrada foi simples e eficiente: ter bons produtos em segmentos pouco disputados, sem (ou ao menos com baixa) concorrência de marcas mais tradicionais.
Este posicionamento pode ser exemplificado nas pequenas custom. Afinal, apenas Dafra e HaoJue comercializam motos no estilo de baixa cilindrada no Brasil, respectivamente, as Horizon 150 e Chopper Road 150. Outro segmento em que a empresa nacional aposta desde que foi criada é o de scooter, porém, agora há várias outras marcas de olho em fatias deste bolo.
Baixa do Cityclass. Queda nas vendas do Citycom
Da mesma forma como ocorria com sua pequena custom, até o início deste ano a Dafra seguia praticamente sozinha no segmento dos scooter médio. E ia ‘muito bem, obrigado’. Kymco Downtown 300i e Honda SH 300i não pareciam ter força para ameaçar a liderença do líder Citycom e, desta forma, a Dafra emplacou 1.759 unidades – contra 1.064 do Kymco e 617 do Honda. Ou seja, liderança
Porém, outras montadoras notaram o potencial do segmento. Yamaha trouxe o XMax no início de 2020 e ele logo tomou o primeiro lugar, emplacando 2.320 motos de janeiro a outubro (no mesmo período, foram apenas 980 Citycom, mesmo recebendo uma nova versão do modelo). Além disso, a Honda está prestes a trazer o Forza 350, o que torna a situação da Dafra no segmento ainda mais vulnerável. Ou seja, incerteza.
Dafra Cityclass 200i – Emplacamentos |
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2015 | 1.743 unidades |
2016 | 927 |
2017 | 588 |
2018 | 448 |
2019 | 218 |
2020 | 77 |
TOTAL: | 4.001 |
Paralelamente, o Cityclass sentiu a chegada de concorrentes. Apesar do bom conjunto, o scooter lançado em 2015 perdeu vendas ano a ano, ao mesmo tempo em que NMax chegou ao mercado (em 2016) e PCX ganhou novas, e aperfeiçoadas, gerações. Assim, o Cityclass caiu de 1.743 unidades vendidas por ano em 2015 para 77 nos primeiros dez meses de 2020.
De acordo com José Ricardo Siqueira, “com a crescente concorrência no segmento o modelo perdeu competitividade e, portanto, optamos por descontinuar o modelo e trabalhar sua substituição num futuro breve”.
E a Dafra Next, por que saiu de produção?
O Next 250 já entrou no mercado preparado para uma briga de cachorro grande. Quando foi lançado, em 2012, Honda CB 300R e Yamaha Fazer 250 já eram modelos consolidados e o estreante precisava apresentar algo diferente para se destacar dos rivais. Desta forma, apostava na performance do motor arrefecido a líquido e seus 25 cv. Deu certo.
No ano de estreia foram mais de 4 mil unidades emplacadas. Porém, o número caiu gradativamente até que em 2017 a Dafra reagiu e atualizou o modelo para 300 cc. Não adiantou. As vendas tiveram uma pequena reação em 2019 mas não se aproximaram dos números iniciais.
Além da concorrência externa, o Next passou a dividir a preferência do público com o Dafra Apache RTR 200. Lançado no ano passado, o modelo emplacou 233 unidades no calendário e 384 em 2020. Pode não ser um número impressionante, mas é quatro vezes maior que as 93 Next emplacadas no período, de janeiro a outubro do ano vigente.
Dafra NEXT 250 / 300 – Emplacamentos |
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2012 | 4.103 unidades |
2013 | 3.902 |
2014 | 2.456 |
2015 | 1.045 |
2016 | 256 |
2017 | 208 |
2018 | 172 |
2019 | 390 |
2020 | 93 |
TOTAL | 12.625 |
Aliás, a decisão de dar fim à produção do Next está ligada em focar na moto menor. “O modelo (Next) foi muito importante para a marca no Brasil, entretanto foi descontinuado por entendermos que a Apache RTR 200, com 21,02 cv, representa melhor a Dafra neste segmento”, afirmou o gerente Siqueira.
Futuro da Dafra e lançamento de novo scooter
Diante do novo cenário, a Dafra traçou outra estratégia. Além de oferecer apenas uma street (a Apache), buscará “fortalecer nossa parceria com nossos dois principais parceiros, a taiwanesa SYM e a indiana TVS”. E, além disso, trará um novo scooter ‘150 – 200 cc’ ao Brasil em 2021.
Desta forma, a empresa pode estar trabalhando na vinda de um novo scooter SYM, uma vez que a TVS não oferece produtos na faixa de cilindrada informada pelo gerente. Portanto, podemos receber modelos como o Jet 14 200 (de visual moderno, iluminação em LED, tomada USB e já no padrão da Euro5) ou Joyride S 200i (com linhas próximas aos do Citycom e proposta mais ‘touring’). Outra opção é o DRG 160, scooter compacto, sem parabrisa, com design repleto de ângulos, painel em LCD, iluminação em LED e freios ABS nas duas rodas.
Ou, quem sabe, a Dafra nos surpreenda trazendo outro modelo. Sobre as novidades da marca, José Siqueira comentou que “existe diferencial de imposto entre as empresas, o que impõe escolha cuidadosa dos nichos de atuação. Outra questão é a da maior dificuldade de crédito para clientes de determinados nichos de mercado, nos quais preferimos deixar de atuar. Mas este não é o caso das street acima de 20cv, onde esperamos grande aumento de vendas em 2021 com a Apache RTR 200. Também não é o caso do nicho scooter 150-200cc, no qual teremos lançamento em 2021”. Agora é esperar.